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29/01/2020 - 08h09

Caged: o pior já passou, mas...

Fonte: O Estado de S. Paulo / Hélio Zylberstajn*
 
Precisaríamos de mais um ano e meio para voltar ao nível de 2014; terão se passado sete anos
 
 
O Caged da sexta, 24, trouxe notícias menos ruins do que as habituais. Tanto os dados de dezembro como o balanço de 2019 têm sinais positivos – embora ainda tímidos – da recuperação do emprego formal. 
 
Comecemos por dezembro. Neste mês, em todos os anos, ocorre uma queda no nível de emprego formal porque as empresas não substituem quem se desliga ou é demitido e não expandem seus quadros. Preferem esperar o ano novo para contratar. Em consequência sempre há redução na quantidade de empregados. É uma perda sazonal, previsível. Neste dezembro, perdemos 307 mil empregos. Destes, nada menos que 72,5 mil (24% do total) foram perdidos nos estabelecimentos de ensino. É fácil de entender: as escolas demitem no fim do ano letivo e só contratam quando as aulas recomeçam, em fevereiro ou março. Isso ocorre em maior ou menor grau em todas as atividades. Em suma, a perda de dezembro é esperada, não surpreende.
 
A novidade é que, desta vez, tivemos a menor perda sazonal dos últimos 14 anos. Desde 2005, a redução de dezembro foi sempre muito grande, maior que a de agora. Perdíamos muitos postos de trabalho no fim do ano, hoje estamos perdendo menos. Perder menos empregos em dezembro é um sinal de recuperação.
 
No balanço do ano, o saldo foi positivo: criamos 644 mil novos empregos formais. Em 2018, tínhamos criado 529 mil. Este é outro sinal de recuperação, mas, claramente, ainda insuficiente. A pergunta é: quanto tempo demorará para reduzirmos significativamente o desemprego?
 
Em 2015, 2016 e 2017 perdemos nada menos que 2,9 milhões de empregos formais. Em 2018 e 2019, recuperamos 1,2 milhão, que representam apenas 40% da perda daqueles três anos. Nesse passo, precisaríamos de mais um ano e meio para voltar ao nível de 2014. Terão se passado sete anos! Os trabalhadores e suas famílias não podem esperar pelos empregos com carteira assinada, e muitos partem para outras formas de inserção no mercado de trabalho, o que explica, em grande parte, o crescimento das ocupações informais (empregados sem carteira, autônomos, microempreendedores, etc.).
 
O Caged mostrou que o pior já passou, mas o ótimo ainda está muito longe. Precisamos encontrar os meios para expandir rapidamente o mercado de trabalho formal e absorver o enorme volume de mão de obra desocupada e subocupada. 
 
*Hélio Zylberstajn, professor sênior da FEA/USP e coordenador do Projeto Salariômetro, da Fipe
 
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