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20/03/2019 - 03h51

Cidades devem se preparar para mudanças na natureza do trabalho

Fonte: Folha de S. Paulo / Claudio Bernardes*
 
Desenvolvimento tecnológico e evolução social terão papel relevante nesse processo
 
 
É fato que a evolução tecnológica e social está trazendo, e trará, profundas mudanças na forma como as pessoas se relacionam com o trabalho.
 
Tanto no setor privado quanto no setor público haverá mudanças significativas, e as cidades devem estar preparadas para atrair e reter talentos, tendo como foco os cenários futuros dessa revolucionária mudança na natureza do trabalho, que está em processo evolutivo.
 
Sabemos que o rápido desenvolvimento tecnológico é um importante agente de transformações, mas a evolução social terá um papel não menos relevante nesse processo. A força de trabalho está se tornando mais diversificada, principalmente em relação a gênero, raça, educação e faixa etária, e essas mudanças devem trazer maior heterogeneidade para as categorias tradicionais de ocupação laboral.
 
As linhas divisórias entre os diversos tipos de trabalho e as experiências dos indivíduos em cada tipo de serviço estão se tornando mais fluidas. Essa evidência sugere a utilização de uma variedade mais ampla de trabalhadores, com possibilidades de atingir os mesmos objetivos.
 
Embora sejam claros os benefícios trazidos pela tecnologia para aquelas pessoas que vivem em economias mais desenvolvidas, há apreensão quanto aos impactos que essa tecnologia pode trazer nos empregos e nas formas de trabalhar.
 
Segundo recente relatório publicado pelo Banco Mundial, essa preocupação não é infundada, pois muitos empregos estão sendo perdidos em virtude da automação. Trabalhadores realizando tarefas rotineiras, que são “codificáveis”, são os mais vulneráveis a serem substituídos por máquinas. Contudo, a tecnologia oferece oportunidades para criar novos empregos, aumentar a produtividade e fornecer serviços públicos mais eficazes. Pela inovação, a tecnologia gera novos setores e novas tarefas.
 
O relatório do Banco Mundial deixa claro que o investimento em capital humano é prioritário para tirar o máximo proveito dessa nova onda tecnológica. Três tipos de habilidades são cada vez mais importantes nos mercados de trabalho: habilidades cognitivas avançadas, como a capacidade de resolução de problemas complexos, habilidades sóciocomportamentais para trabalhar em equipe, e combinações de habilidades que são indicativas de adaptabilidade, como raciocínio e autoeficácia.
 
Portanto, os governos, principalmente em países emergentes, devem priorizar a formação do capital humano e ter especial atenção aos fundamentos para o desenvolvimento das crianças durante a primeira infância. Tal medida é fundamental para que tenhamos, no futuro, adultos preparados e com as habilidades necessárias para essa nova ambiência do mercado de trabalho, que será realidade em pouco tempo.
 
A arquitetura do cérebro inicia sua formação no período pré-natal e se estende até os seis anos de idade. Este é um estágio importantíssimo para o desenvolvimento da criança. Experiências e aprendizados durante este período afetam diretamente o desempenho do cidadão na idade adulta. Se esta janela de oportunidade é perdida, a construção de habilidades e o desenvolvimento de aptidões tornam-se muito mais difíceis.
 
Para as crianças em seus primeiros anos de vida, investimentos em nutrição, saúde, proteção e educação estabelecem bases sólidas para as futuras aquisições de habilidades cognitivas e sociocomportamentais.
 
A aplicação dirigida de recursos na primeira infância é uma ação essencial para melhorar a igualdade de oportunidades e, assim, alcançar os objetivos de sua evolução.
 
Programas de qualidade para a primeira infância podem aumentar a competência adulta, reduzir o comportamento violento e a inibição social, além de fomentar a estruturação das qualidades necessárias às novas formas de trabalho.
 
Preparar a sociedade para se adaptar a esse movimento irreversível de mudanças na natureza do trabalho requer comprometimento social e investimentos em educação. Quanto mais forte essa consciência e a disposição em buscar esse objetivo, mais rapidamente estaremos preparados para esse futuro inexorável.
 
*Claudio Bernardes, engenheiro civil e presidente do Conselho Consultivo do Sindicato da Habitação de São Paulo. Presidiu a entidade de 2012 a 2015.
 
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