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24/01/2022 - 09h57

Diretor-presidente da DP World Santos acredita que ano será estratégico para setor portuário

Fonte: A Tribuna On-line
 
Fábio Siccherino falou, em entrevista a A Tribuna, sobre movimentação de cargas, eficiência, navios maiores e mais
 
Além das expectativas de superar marcas de movimentação de cargas no Porto de Santos neste ano, o diretor-presidente da DP World Santos, Fábio Siccherino, aposta que 2022 será um ano estratégico para o setor.
 
Segundo ele, a empresa segue com avaliações sobre novos investimentos, com o objetivo de diversificar operações e aumentar a capacidade de embarques e desembarques de contêineres. O executivo ainda destaca a oportunidade de consolidar o Porto de Santos como um Hub Port da costa leste da América do Sul e a necessidade de melhorias nos acessos ferroviários, aquaviários e rodoviários do cais santista. Confira mais na entrevista a seguir.
 
Quais são as expectativas de movimentação de cargas em 2022? O volume estimado é maior ou menor do que o realizado em 2021? Quanto?
 
Esperamos que 2022, em termos gerais, seja melhor que 2021, que já teve números superiores a 2020. Ainda estamos fechando o consolidado do ano passado, porém a DP World Santos apresentou, no primeiro semestre de 2021, um crescimento de 17% em suas operações com cargas conteinerizadas em relação a 2020, com pouco mais de 450 mil TEU (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) movimentados no período. O bom número também é reflexo da recuperação do setor, que foi fortemente impactado pela pandemia de covid-19 em 2020.
 
Como driblar esses impactos?
 
A DP World Santos vem fazendo investimentos em equipamentos, inovação, tecnologia e capacitação de mão de obra para aumentar a produtividade das operações e contribuir significativamente para a competitividade do comércio exterior brasileiro. Neste ano, seguimos com a nossa avaliação sobre novos investimentos, com o objetivo de continuar a estratégia de diversificação de cargas e aumentar a nossa capacidade de movimentação de contêineres, suportando, assim, o crescimento sustentável do comércio global. Além disso, a DP World Logistics, braço logístico do Grupo DP World, criada no fim de 2020, começou a operar, passando a oferecer dentro do seu portfólio o serviço porta-a-porta, ou seja, a logística completa da carga dos clientes nas operações de importação e exportação.
 
E quais são as ações que podem garantir que as operações sejam mais eficientes no terminal do Porto de Santos?
 
Existem algumas ações que podem garantir maior eficiência nas operações do Porto de Santos. A primeira seria o aumento do calado no canal de acesso. Em 2021, já foi homologada pela Marinha do Brasil a possibilidade do Porto de Santos receber navios de 366 metros. Mas, para que isso seja atrativo aos armadores, será fundamental a dragagem do canal, garantindo maior calado e permitindo um maior aproveitamento da capacidade desses navios maiores. Um ambiente que permita e incentive a atração de novos investimentos para o Porto também será fundamental para que os operadores possam continuar investindo em inovações e aportando novas tecnologias que certamente contribuirão para o aumento da eficiência. Nesse sentido, a segurança jurídica e estabilidade regulatória são imprescindíveis.
 
No cenário macro, quais são os desafios de logística neste ano?
 
Um dos principais desafios para a logística internacional é promover conexões eficientes e competitivas entre a hinterlândia e o Porto. Assim, é fundamental que ocorram melhorias nos acessos ferroviários, aquaviários e rodoviários. Atualmente, a iniciativa privada tem investido muito em infraestrutura no Brasil, mas ainda temos um longo caminho pela frente para recuperar o nosso estoque de capital de infraestrutura. Além disso, considerando os portos como territórios situados nos espaços de manobra de um “tabuleiro” mundial, é necessário que estes estejam atentos no que existe de mais moderno e eficiente para atender a estas grandes embarcações, tanto do ponto de vista de infraestrutura quanto de automação e tecnologia.
 
E especificamente no Porto de Santos?
 
Já comentamos, há algum tempo, que o Porto de Santos, por ser o principal porto da América Latina, tem a grande oportunidade para se consolidar como um Hub Port da costa leste da América do Sul, ou seja, um porto concentrador, a partir do qual as cargas poderiam ser distribuídas ao longo da costa através dos serviços feeder, com navios menores. A partir dessa consolidação, seria possível colocarmos navios maiores nas rotas mais longas e navios menores em rotas para fazer a navegação por meio de cabotagem. Também é fundamental mais investimentos do modal ferroviário para que possamos melhorar e ampliar a recepção de cargas no Porto de Santos. Atualmente, cerca de 30% das cargas chegam à Santos pelo modal ferroviário e a demanda é tão sensível que a DP World Santos inaugurou, em 2020, como parte do maior e mais moderno complexo de celulose do País, em parceria com a Suzano, uma moderna pera ferroviária que minimiza a necessidade de manobras e não demanda o desengate dos vagões para fazer a descarga. Isso permite que todo o volume do produto seja transportado direto das unidades produtoras nas cidades de Jacareí e Três Lagoas por ferrovia até nosso terminal. No entanto, quando olhamos o volume de contêineres que chegam ou saem do Porto de Santos, apenas 3% vão pelo modal ferroviário. Observamos aí uma grande oportunidade.
 
Será um ano de intensas transformações, com a possibilidade de deses-tatização da Santos Port Authority (SPA). Quais são as expectativas para este processo?
 
A princípio, vemos com bons olhos a desesta-tização da SPA. Entretanto, é necessária a realização de discussões mais detalhadas sobre o modelo de desestatização que será escolhido. As discussões devem ser em torno dos benefícios esperados, principalmente para os embarcadores, e como será contemplado o tema segurança jurídica, além dos riscos regulatórios dos contratos vigentes e as regras para novos contratos. O modelo deve, ainda, garantir que o Porto de Santos mantenha o seu papel de protagonista no comercio internacional brasileiro. Essa é um iniciativa que, se feita de forma correta, trará inúmeros benefícios ao setor como maior celeridade aos investimentos em infraestrutura de acesso aquaviário, que permita a operação de navios cada vez maiores, conferindo maior confiabilidade às operações portuárias e maior competitividade ao comércio exterior brasileiro.
 
E quais os pontos de maior atenção para as autoridades e usuários do setor?
 
Como já ressaltado, é necessário que o Porto de Santos se consolide como principal Hub Port para a costa leste da América do Sul e, para isso, é fundamental que sejam criados e melhorados os acessos terrestres e aquaviários para tornar o porto mais eficiente e competitivo, além de construir uma boa conectividade com outros portos a partir de um serviço feeder, com o intuito de possibilitar a distribuição dos volumes operados para outros portos ao longo da costa brasileira.
 
Também haverá eleições presidenciais, o que sempre mexe com o mercado e com as expectativas do setor. Em linhas gerais, quais devem ser os planos dos candidatos para o Porto de Santos?
 
Acreditamos que o ritmo dos programas de investimentos em infraestrutura contribuirá positivamente para o desenvolvimento do nosso país. Porém, como já ressaltei anteriormente, precisamos de um ambiente favorável para investimentos em infraestrutura e um dos pontos, sem dúvida, deve ser a segurança jurídica e estabilidade regulatória, entre outros, para que possamos seguir investindo em tecnologia, aumentando a eficiência e a competitividade do Porto de Santos e, como consequência, contribuindo para uma maior participação do Brasil no comércio global.
 
Na sua opinião, como estará o setor portuário em 31 de dezembro deste ano?
 
O setor portuário brasileiro está aquecido, em particular com as conquistas que tivemos ao longo de 2021, mas ainda precisa de impulso do setor privado. Neste ano, já veremos bons resultados com a entrada em vigor do BR do Mar, que vai ampliar o escoamento da produção a partir da cabotagem. Também podemos aguardar, para o segundo semestre, a privatização do Porto de Santos, que, dependendo da modelagem do processo, vai potencializar os lucros relacionado a este porto no País. O leilão da Codesa poderá dar um bom indício do que virá.
 
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