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29/11/2022 - 11h49

Multimodalidade. Conexão Porto-Ferrovia

Fonte: A Tribuna On-line / Flávia Takafashi*
 
Logíastica brasileira vem se tornando mais eficiente, mas entraves que precisam ser resolvidos
 
Os números da logística brasileira vêm mostrando, ao longo dos anos, o resultado do aumento da eficiência no escoamento da carga que abastece o País ou que se destina ao comércio exterior.
 
De uma maneira especial, os portos têm sido palco de incrementos significativos de investimentos e de performance na movimentação de cargas.
 
Mas, acompanhando os resultados da matriz de transporte brasileira, é inequívoca a percepção de que, apesar dos avanços, a logística de movimentação de cargas vivencia diversos entraves no trajeto entre a origem e o destino da mercadoria que movimentamos.
 
Custo elevado do frete. Condições precárias das rodovias. Congestionamento nas cidades. Roubo e perda de cargas no trajeto. E longas distâncias entre a origem e o destino da carga são alguns dos problemas enfrentados.
 
Os terminais portuários brasileiros são grandes referências de eficiência e performance, mas seu desenvolvimento e crescimento estão diretamente ligados à capacidade de recepção e expedição de cargas que possuem.
 
Recentemente, um grupo de executivos brasileiros esteve visitando alguns portos da Espanha e conhecendo mais sobre a sua logística de movimentação de cargas.
 
O Porto de Valência, quarto da Europa em movimentação de contêineres e 27º no mundo, foi um dos ativos logísticos visitados. Na apresentação institucional feita pela Autoridade Portuária local, foi possível entender seu modelo de negócio e sua vocação como terminal voltado ao transbordo de cargas conteinerizadas.
 
Uma ótica que foi bastante abordada foi a questão da multimodalidade e da sua conectividade com três corredores ferroviários que atravessam o país levando cargas ao sítio portuário.
 
A criação de corredores logísticos multimodais com melhor utilização das ferrovias como ponto de integração é uma alternativa para aumentar a eficiência logística e diminuir os custos de escoamento da nossa produção que escoa pelos portos brasileiros.
 
O Plano Nacional de Logística (PNL), elaborado pela EPL, atual Infra S/A, definiu metas e ações de infraestrutura para os próximos 13 anos e tem como foco imediato o transporte multimodal. Um dos objetivos do PNL é criar corredores logísticos integrados, principalmente entre ferrovia-porto e entre ferrovia-rodovia.
 
Hoje, apenas 14 portos públicos possuem integração com o modal ferroviário e o principal entrave para os projetos de construção e manutenção das ferrovias é o alto custo de investimento, aliado ao cálculo de retorno econômico. Nos três últimos anos, o modal ferroviário deu um salto. E atualmente, após a edição da Lei 14.273/2021, conhecida como o novo marco legal das ferrovias, há em tramitação 32 novas linhas que pretendem interligar terminais portuários espalhados pela nossa costa, representando mais de 22 mil km de novas ferrovias e investimentos da ordem de R$ 295 bilhões.
 
O frete de produtos agrícolas por ferrovias registrou o maior crescimento dos últimos 12 anos, aumentando em 127% desde 2010. Hoje, as ferrovias são responsáveis pelo transporte de cerca de 40% das commodities agrícolas exportadas pelo País.
 
Os portos das regiões Sul e Sudeste, em especial os de Santa Catarina, Paraná e Santos, são vistos como os potenciais polos de atração de cargas para posterior distribuição interna no País por meio das ferrovias.
 
E esse impulso de conexão porto-ferrovia reforça a necessidade de capacidade portuária competitiva e de uma regulação dos modais cada vez mais integrada.
 
E é por isso que a Antaq tem acompanhado os desdobramentos da nova gestão operacional do escoamento da carga pelo modal ferroviário, de forma conjunta com a ANTT.
 
As duas agências firmaram convênio de cooperação com o objetivo de aumentar a capacidade de fiscalização, compartilhar informações e garantir a efetiva implantação da multimodalidade porto-ferrovia.
 
Por meio da troca de experiência e conhecimento, as agências buscam compatibilizar as suas regulações para proporcionar um crescimento harmônico e eficiente dessa integração logística, cada vez mais necessária para um país de dimensões continentais como o nosso.
 
Se estamos discutindo o fortalecimento da infraestrutura nacional - sim, estamos e sempre estaremos -, a multimodalidade com a conexão porto-ferrovia precisa ter prioridade de pauta e de espaço para a implementação de ações concretas, que permitam o avanço integrado dos ativos logísticos.

*Flávia Takafashi, diretora da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq)
 
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