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27/05/2022 - 10h21

O porto é nosso. Mas... nós somos do porto?

Fonte: A Tribuna On-line / Hudson Carvalho*
 
“Se estiver passando pelo inferno, continue caminhando”. Frase atribuída, sem comprovação, a Winston Churchill
 
O mundo do trabalho vem mudando. No setor portuário, mais ainda. Isso você já sabe. Quantos e quantos fatores novos influenciam, hoje, os processos de trabalho e a forma como são realizados pelos diversos cargos existentes numa organização que atua na cadeia produtiva dos portos brasileiros.
 
Em edições anteriores dessa coluna, tenho tratado insistentemente nesse tema, explorando a necessidade crescente de qualificação profissional, o surgimento de novos cargos, os que vão sumir, as novas tecnologias que são embarcadas, conectividade, necessidade cada vez maior de produtividade, redução de custos, questões sociais, diversidade, sustentabilidade e governança.
 
A título de exemplo, um só, embora pudesse citar vários outros importantes, destaco o programa Futuro do Setor Portuário, lançado pelo Ministério da Infraestrutura em setembro de 2021, que traça diretrizes divididas em quatro eixos: melhoria da regulação; gestão e modernização; capacitação; e inovação. Abrindo cada um desses eixos, chegamos a praticamente todos os elementos de mudança que descrevo no parágrafo anterior.
 
O cenário é complexo, mas não creio que seja o inferno em si. Trata-se apenas da evolução natural da forma de fazer negócios. O ponto que quero trazer à reflexão é que vejo a reação de instituições ligadas ao porto, governos, operadores portuários, mas – curiosamente - não vejo na mesma proporção, a reação dos trabalhadores e suas representações formais.
 
Em última análise, sinto que a sociedade em si, não está dando a esse tema a importância que deveria. O “inferno” está, portanto, em nossa capacidade de reação ao cenário. Ainda é baixa. Nesse momento, não podemos nem alegar que seja por falta de informação. Nunca esse tema foi tão discutido, seja pela mídia tradicional especializada no universo portuário ou por meio das redes sociais.
 
Por que, então, não reagimos? O que nos falta para entendermos a grandeza de oportunidades de trabalho de qualidade que o porto pode oferecer, não apenas para profissionais de nível superior, mas para uma enormidade de postos em nível técnico e operacional?
 
Na prática, estamos buscando as ofertas de cursos nas universidades e escolas técnicas locais? Estimulando a nossos familiares que o faça?
 
Estamos atentos às competências comportamentais, as tais soft skills, tão necessárias para corresponder com eficiência e eficácia ao que os empregadores esperam contratar para compor suas equipes de trabalho?
 
Não tenho repostas para todas essas questões, mas sei que há sinais claros que apontam caminhos: as carreiras relacionadas aos cursos técnicos estão disponíveis, mas são pouco exploradas, embora sejam bem remuneradas. Talvez o sonho de universidade não seja a única opção. O domínio de um segundo idioma é um tremendo diferencial. Quanto a competências comportamentais, há pelos menos duas que todos os recrutadores consideram importantes: capacidade de analisar problemas e partir rápido para a solução e habilidade de trabalhar bem em equipe.
 
Mais do que tudo, sinto que todos temos a responsabilidade de trazê-las para a reflexão, de estimular que jovens e não tão jovens olhem para seu futuro profissional e considerem de forma madura o trabalho portuário como opção de carreira. Mover, armazenar e transportar contêineres, granéis sólidos e líquidos, cargas de projeto e passageiros são atividades de alta complexidade, mas não devem ser o “inferno” para nenhum profissional. É só estar preparado. Vamos lá?

*Hudson Carvalho é especialista em Gestão de Pessoas e em Estratégia Organizacional
 
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