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22/06/2022 - 11h01

Satisfeito com o presente para pensar demais no futuro

Fonte: A Tribuna / Maxwell Rodrigues*
 
Na semana passada, estive em Roterdã depois de quatro anos e confesso que, ao chegar no município, a primeira pergunta que me veio à mente foi: estou no futuro ou no presente? Para quem vive na cidade holandesa, certamente é o presente, mas para nós, que estamos em Santos, olhamos Roterdã como futuro. Em um dos maiores e melhores portos do mundo, quando o assunto é evolução portuária, não existe procrastinar, o resultado é sempre estresse, sensação de culpa, perda de produtividade e vergonha em relação aos outros por não cumprir com as responsabilidades e compromissos.
 
Por que estamos procrastinando tanto o que temos de fazer no maior porto da América Latina? Em Roterdã, quando pensam em capacitação, treinam de verdade. Centros tecnológicos, simuladores, mestres em diversos temas e equipamentos de última geração proporcionam a realidade e transferência de conhecimento aos futuros portuários. Pensando em mobilidade urbana, não debatem qual a melhor opção, mas sim como projetar os próximos anos e investir em obras que resolvam o problema do futuro e não do presente. Estão fazendo o quarto túnel.
 
No tocante à tecnologia, Roterdã é a Disneylândia dos portos: tem de todo tipo, forma e maneira. O tão esperado PCS (Port Community System) já está implantado. Não inventam a roda e usam tecnologias já testadas pelo mercado com modelos de negócios que são sustentáveis financeiramente. Por aqui, queremos tudo de graça, por lá focam no negócio. Preservam a receita e impulsionam o emprego, sem interesses individuais, mas sim coletivos. O plano do governo é arrecadar, gerar empregos, capacitar e dar liberdade para a iniciativa privada investir.
 
Falando em história, o Futureland é uma opção fantástica do porto holandês. Sobre preservação e sustentabilidade, estas são palavras de ordem. Um exemplo: para quem investe no tema, existe redução de tarifas na ordem de 20%, um incentivo de verdade. Em uma master class sobre portos inteligentes, o palestrante nos perguntou: para ser inteligentes, precisamos primeiro saber qual o nosso problema. E qual o nosso problema? Fiquei intrigado com isso.
 
Fazemos um malabarismo enorme para conseguir avançar um centímetro em qualquer frente e sempre nos defrontamos com lados que não querem a evolução por não atender a certos interesses. A mudança de mindset é fundamental nesse processo, em que, ao invés de impedimos quem quer fazer, temos de criar oportunidades e deixar quem está fazendo de fato realizar. Para quem está na gestão, o importante é ouvir e atender a todos sem que haja uma guerra de interesses. Se existem problemas, há oportunidades e elas devem se tornar bons e novos negócios para que, assim, possamos andar para frente e não para trás.
 
Tudo está sendo previsto para acontecer na desestatização: dragagem, tecnologias, museu do porto etc. E se a desestatização não acontecer? Muitos irão comemorar? Outros ficarão com a sensação de que retrocedemos novamente? Até quando estaremos motivados para avançar? Essa percepção de conformismo com o presente nos impede de pensar no futuro. A síndrome de Poliana é a tendência que as pessoas têm de se lembrar mais facilmente de coisas agradáveis do que de coisas desagradáveis. Quero, sinceramente, olhar daqui a dez anos e me orgulhar do que nossa gestão fez e não do que deixamos de fazer. Será que esta síndrome é somente minha?
 
Durante a visita a Roterdã, pude perceber da Antaq (representada por Eduardo Nery), do Ministério da Infraestrutura (com Otto Burlier) e da Prefeitura de Santos (representada por Júlio Eduardo dos Santos e Flavio Jordão) que todos estão empenhados em, juntos, deixar um legado para o Porto de Santos. Um legado em que iremos olhar para trás e ver que fizemos a diferença. Retorno para o Brasil com o sentimento de que não estamos satisfeitos com o presente porque existem pessoas que não estão realmente preocupadas com o futuro.
 
*Maxwell Rodrigues, executivo e apresentador do Porto 360°
 
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