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12/12/2022 - 06h17

Transporte aquaviário: a hora é essa!

Fonte: A Tribuna On-line / Marcelo Neri*
 
Atualmente, o país tem 42 mil quilômetros de rios potencialmente navegáveis
 
O modal aquaviário é considerado um dos meios de transporte mais antigos. A evolução deste modal contribuiu para que povos movidos pelo interesse econômico e de expansão territorial conquistassem terras, descobrissem novos continentes e adquirissem novos conhecimentos.
 
O Brasil é o quinto país em extensão territorial, possuindo enorme extensão de rios caudalosos e uma costa marítima de tamanha dimensão, que se considerarmos todas as saliências e reentrâncias, possui um contorno que chega a 9.200 quilômetros. Atualmente, o país tem 42 mil quilômetros de rios potencialmente navegáveis, 19 deles economicamente navegáveis. Os principais da malha hidroviária brasileira são Solimões, Madeira, Tapajós e Tocantins, no Norte do País; Paraná-Tietê, no Centro-Oeste; e as hidrovias do Sul, Jacuí, Lagoa dos Patos e Guaíba. Somos uma nação de vocação aquaviária e de desenvolvimento intrinsecamente voltado ao mar.
 
Importante destacar que nenhum dos corpos hídricos do nosso território congela ao longo do ano. Países que não contam com este tipo de clima ameno e possuem desafios maiores impostos pela mãe natureza, curiosamente, transpuseram suas dificuldades planejando e construindo o que se tem de melhor em termos de transporte hidroviário e intermodalidade ao longo de sua história.
 
Apesar de o Brasil ter quantidade significativa de rios com potencial para a navegação, eles não estão prontos para o uso. Para que sejam transformados em hidrovias, é necessário que os rios passem por obras de dragagem e sinalização, por exemplo. Dentre muitas nações que se aproveitam desse de seus rios navegáveis, estruturando-os como hidrovias, os Estados Unidos são o que mais utilizam de tal artifício: o país possui o maior fluxo hidroviário do planeta: aproximadamente 57%. As hidrovias norte-americanas totalizam 40 mil km.
 
Para transportar uma tonelada de carga, utilizam-se quatro litros de combustível em hidrovias e seis litros em ferrovias. Além disso, o custo de implantação da infraestrutura também é menor. Não somente devido a estes motivos, mas também por conta da necessidade de um aprimoramento na gestão das redes portuárias interiores e da integração multimodal, é premente que o Poder Público se conscientize do quanto se faz primordial um maior investimento para o setor aquaviário.
 
Por uma série de razões de interesses diversos, não houve um planejamento correto em termos de nossa matriz logística ao longo de nossa história. Neste último governo, a pasta de Infraestrutura procurou olhar mais para as ferrovias, dando ênfase à execução de projetos deste modal.
 
De qualquer forma, verificamos em um espectro de 2001 a 2021 que o modal rodoviário foi o principal receptor dos investimentos públicos federais, concentrando 71% de todos os recursos do período. Podemos observar ainda que os investimentos públicos federais no modo aquaviário entre 2001 e 2021, por tipo de intervenções agregadas, somaram um total de 15,4 bilhões, enquanto os modais rodoviário, aéreo e ferroviário, receberam investimentos nos montantes de 226,9, 41,2 e 36 bilhões, respectivamente.
 
De qualquer forma, mesmo com esse histórico reportado, e até mesmo por conta de uma suposta conscientização de erros históricos cometidos, existe hoje um sentimento de otimismo em relação ao futuro do transporte aquaviário. Toda a pujança do agronegócio, tendo que demandar uma melhor intermodalidade para fazer chegar seus produtos via transbordos que utilizam os rios navegáveis, tem feito com que haja uma melhor percepção de termos que ter uma agenda única do poder público e iniciativa privada, através de uma política de Estado, com um ente concentrador que promova um maior foco, com equilíbrio em suas decisões, realmente transformando rios em hidrovias, gerando marcos legais e regulatórios, que visem planejar, organizar e direcionar um maior volume de investimentos para o modal aquaviário. A hora é essa!
 
*Marcelo Neri é presidente da Federação Nacional das Agências de Navegação Marítima (Fenamar)
 
 
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