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11/11/2021 - 09h27
A disparada da informalidade
Fonte: A Tribuna On-line / Editorial
Há um risco de empobrecimento acentuado se a contratação com carteira não engrenar no próximo ano
Ainda que o mercado de trabalho formal (carteira assinada) tenha acelerado o ritmo de geração de vagas, o emprego informal é um importante reflexo da pandemia e continuará em níveis elevados no próximo ano, segundo economistas. Um estudo da consultoria iDados com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Trimestral e divulgado pelo jornal Valor mostra que 48,7% dos ocupados eram informais no segundo trimestre. Esse percentual equivale a 42,7 milhões de trabalhadores, perto dos 46 milhões de habitantes do Estado.
Esse índice supera os 48,5% de igual período em 2019 e, além de se aproximar da triste marca de metade dos trabalhadores mergulhados na informalidade (em pouco tempo a maioria da mão de obra do País poderá ser informal), traz uma carga pesada de impactos socioeconômicos. Além dos rendimentos bem mais baixos como resultado dessa precariedade no emprego, há uma barreira desse contingente à bancarização e ao acesso ao crédito com juros mais reduzidos. Esses brasileiros também enfrentam dificuldades para se capacitarem e buscarem melhores ocupações ou ao menos tentarem ingressar na formalidade. Assim, há um risco de empobrecimento acentuado se a contratação com carteira não engrenar no próximo ano. Aliás, economistas, como Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas, afirmam que a geração de empregos estimulada pela reabertura desde o relaxamento das medidas sanitárias nos últimos meses vai arrefecer em 2022 com o crescimento mais lento - ou talvez recessão do País.
O avanço da informalidade não é recente, mas foi acentuado na pandemia. Conforme os pesquisadores, a partir de meados da década passada, houve a uberização, que basicamente torna o trabalhador um autônomo, inclusive se formalizando como microempreendedor individual (MEI). Como o mercado formal não gera vagas suficientes, muita gente optou por atuar por conta própria, com ou sem MEI ou como pessoa jurídica, neste caso geralmente trabalhadores mais capacitados que passam a prestar serviços até para ex-empregadores. O que preocupa é que pelo menos 3 milhões de trabalhadores ainda não voltaram ao mercado, o que pode aumentar a disputa por uma vaga e piorar os índices do desemprego nos próximos meses.
Portanto, o governo, se realmente estiver preocupado com a realidade das ruas, ao invés de centrar suas energias apenas no Auxílio Brasil, deveria simultaneamente adotar medidas mais objetivas para estimular o emprego formal. Não apenas para as faixas mais jovens ou a partir dos 50 anos, como já foi anunciado. Por exemplo, por meio de um grande programa de obras de infraestrutura ou de transição para energias sustentáveis. Entretanto, o foco de fim de gestão prioriza o curto prazo, mas é preciso pensar em medidas de alcance mais prolongado.






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