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17/07/2020 - 08h18

Afastamento temporário afeta trabalhador pouco qualificado

Fonte: Valor Econômico
 
Os trabalhadores de baixa escolaridade, ligados aos setores de serviços e do varejo, foram os alvos mais frequentes do afastamentos temporários do trabalho durante a pandemia de covid-19, revela levantamento da consultoria IDados realizado nas estatísticas da Pnad Covid, pesquisa mensal do IBGE. Dados da pesquisa mostraram recentemente que 19 milhões de pessoas estavam afastadas temporariamente do trabalho em maio deste ano, das quais 9,7 milhões estavam sem receber remuneração. O levantamento do IDados detalha esses afastamentos pelas categorias de trabalho
 
Dos brasileiros que viviam como vendedores ambulantes, por exemplo, 41% estavam sem exercer a ocupação em maio último, sendo a maioria sem receber renda (90% dos afastados). Os percentuais são idênticos aos verificados entre cabeleireiros e manicures, por exemplo. Essas atividades são mais afetadas porque dependem da circulação de pessoas nas ruas e a presença dos clientes, situações afetadas pelas medidas de isolamento social decretadas a partir de meados de março. O mesmo vale para cozinheiros e garçons (38% da categoria afastada do trabalho), motoristas (32%), balconistas de lojas (23%). 
 
“Com o fechamento dos estabelecimentos, muitos trabalhadores foram mandados para casa, em vez de demitidos, parte com suspensão do contrato de trabalho. Eles não aparecem nas estatísticas de desempregados, mas estão sem renda. Os dados agora ajudam a mostrar quem eles são”, disse Mariana Leite, pesquisadora do IDados. Sem poder frequentar a residência das famílias, 32% das empregadas domésticas estavam sem trabalhar. Distante do público e dos fiéis, 32% dos artistas e religiosos estavam sem exercer suas ocupações em maio. Uma parcela pequena dos artistas contornou isso com lives patrocinadas nos últimos meses. 
 
Já os professores formaram uma das poucas categorias profissionais, de maior nível educacional, que aparecia entre as mais afastadas. Segundo o levantamento, 34% da categoria estava em casa, sem aulas online. Apenas 10% dos afastados, porém, estavam sem o salário, o que pode ter relação com o peso do setor público na categoria. As profissões com menor afastamento incluem trabalhadores da atividade agrícola. Apenas 6% dos auxiliares da agropecuária estavam afastados temporariamente, por exemplo. Além da safra recorde no país, áreas rurais podem ter sido menos exigidas a adotar medidas de isolamento social.
 
Segundo Mariana, também houve menor afastamento de trabalhadores ligados ao atendimento à distância, desde operador de telemarketing (apenas 8% de afastamentos), entregadores de mercadoria (10%), motoboy (11%). Também foram menos afastados médicos e enfermeiros (10%), por exemplo. “Trabalhadores de maior nível educacional, em geral, têm maior probabilidade de conseguirem exercer suas funções remotamente e registraram menor incidência de afastamentos”, disse a pesquisadora. “Com a flexibilização, a tendência é que trabalhadores comecem a voltar aos poucos do afastamento.”
 
Dados do IBGE mostram que desde a primeira semana de maio 5,4 milhões de pessoas deixaram o afastamento temporário. São agora 11,15 milhões de pessoas nessas condições. “Por mais que tenha o auxílio emergencial, o valor pode ser pouco para parte dos profissionais permanecer mais tempo afastado”, acrescenta a pesquisadora. Para ela, a capacidade desses trabalhadores serem reabsorvidos pelo mercado vai depender da duração e do perfil da crise.
 
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