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15/03/2022 - 10h29

Caminhoneiros nem discutem greve

Fonte: Valor Econômico
 
Apesar de manifestações isoladas em alguns pontos do país, uma greve generalizada de caminhoneiros contra o aumento dos preços dos combustíveis anunciado na semana passada é praticamente descartada pela categoria.
 
Líderes dizem que os motoristas estão isolados, sem apoio de outros segmentos da economia, e que há gatilhos hoje para compensar as perdas com o reajuste do combustível, que não havia em 2018. Naquele ano, caminhoneiros promoveram uma paralisação que provocou reflexos para a rotina de muitas empresas e para a economia do país.
 
Um dos líderes da categoria prevê o reajuste da tabela mínima do frete rodoviário pela agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) a cada vez que o preço médio do diesel ultrapassa 10% nas bombas. “Quem vai pagar é o consumidor final a cada produto que comprar no supermercado, porque o preço dos fretes vai subir”, diz José Roberto Stringasci, presidente da Associação Nacional de Transporte do Brasil (ANTB).
 
Segundo ele, o contexto atual é muito diferente de 2018. “O agronegócio nos apoiou [na época] porque tinha interesse em perdão de dívidas, em ter apoio do novo governo, as transportadoras também tinham interesse político, então, todos financiaram a greve. Hoje, o autônomo está sozinho e não tem ninguém que consiga uni-los”, reclama.
 
Stringasci diz que muitos deixarão de ser caminhoneiros ou virarão empregados de transportadoras. Em grupos de WhatsApp acompanhados pelo Valor há algumas manifestações de motoristas dizendo que largarão a profissão. Ninguém fala em greve.
 
Marcos Souza, de Ourinhos (MT), o “Pitbull”, diz que vai largar a carreta quando voltar para sua cidade, depois de 30 dias carregando soja para o Nordeste. “Fechei um frete e tive dois reajustes de combustível durante a viagem, perdi R$ 300. Vou vender essa porcaria”, afirma, sobre o caminhão.
 
“O governo quer e tem apoio das grandes empresas hoje. O agronegócio também está ótimo neste momento, ninguém está ligando para nós ou para o consumidor que vai pagar tudo mais caro”, completa Stringasci.
 
A ANTB defende que a única maneira de solucionar a questão dos aumentos recorrentes do diesel é o fim da Paridade do Preço de Importação (PPI), da Petrobras. “Faremos uma carreata em maio para explicar a população como isso é prejudicial a nós brasileiros.”
 
O mesmo discurso foi feito pelo Wallace Landim, o “Chorão”, um dos líderes de 2018, no dia do anúncio do reajuste. “É preciso que a população brigue para não ter mais aumentos. Não é um problema dos caminhoneiros, é um problema dos brasileiros.”
 
Carlos Alberto Litti Dahmer, da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), também acha que as medidas do governo desde o reajuste ajudam, mas não resolvem o problema. A CNTTL não está à frente das manifestações como no passado porque a categoria ficou receosa com a forma como o governo reagiu no passado.
 
Dahmer ressalta que, na última vez que o segmento se movimentou, no início de novembro, a CNTTL recebeu, sozinha, 13 interditos proibitórios – que ameaçam com multa em caso de paralisação – no valor de R$ 100 mil cada. Desta vez a ideia das entidades é trazer a população para protestar junto. “Não é algo que afete apenas a condição dos caminhoneiros, mas todos o cidadãos. Seja quem está pagando R$ 8 na gasolina ou mais de R$ 100 no botijão de gás”, diz.
 
Outro motivo para a não realização de protestos nas estradas seria o receio de se ver envolvido em “politicagem”, diz o presidente do Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC), Plínio Dias. “É para não dar brecha para oportunistas de plantão falaram que a gente é contra o governo, que é esquerdopata. Não somos contra o governo, contra a esquerda ou a direita. A gente luta pela classe.”
 
Outra reclamação recorrente é a falta de canais de diálogo com o governo, que teria restringido a interlocução apenas com representantes mais “simpáticos” a ele. Historicamente, os caminhoneiros autônomos são uma categoria cuja representação é bastante fragmentada, mas agora estaria também dividida. Sobram críticas a Bolsonaro, que surfou a onda de descontentamento da greve de 2018 e tem nos caminhoneiros uma de suas bases de sustentação.
 
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