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09/12/2021 - 10h33

Cruzeiros retomam viagens com protocolos após pesadelo de navios infectados

Fonte: Folha de S. Paulo
 
Exigência de vacina e testes contra a Covid-19 acalmam, mas ainda há aglomerações sem máscaras
 
No fim de janeiro de 2020, um cidadão de Hong Kong de 80 anos embarcou, resfriado, em um cruzeiro em Tóquio, em uma curta viagem de cinco dias de volta à ilha na China. Em 1º de fevereiro, ele foi diagnosticado com Covid-19.
 
Na sequência, o cruzeiro, que havia seguido viagem pelo Pacífico, começou a confirmar uma série de casos da doença, que ainda era em larga medida desconhecida no mundo, e os passageiros foram proibidos de desembarcar, ficando confinados no navio infectado. Em março, 712 pessoas das 3.711 pessoas a bordo já haviam sido contaminadas e mais de uma dezena morreu.
 
O enredo de terror que envolveu o Diamond Princess no começo da pandemia impactou fortemente o turismo de cruzeiros, que, de cara, foram suspensos no mundo todo.
 
Agora, em outro momento da pandemia, com vacinas disponíveis em larga escala, testes mais acessíveis e uma compreensão muito maior sobre como se dá a infecção, empresas têm aplicado protocolos e tentado convencer os passageiros de que é seguro voltar a bordo e retomar este, que foi um dos setores mais afetados pela crise.
 
Dados da Clia (Associação Internacional de Linhas de Cruzeiros) apontam que, só entre março e setembro de 2020, período de restrições mais severas pelo mundo para conter a pandemia, a suspensão das operações de cruzeiros representou um impacto de US$ 77 bilhões, com perda de 518 mil empregos e US$ 23 bilhões a menos em salários pagos.
 
No começo do mês, a Folha embarcou em um cruzeiro curto, de duas noites, da Royal Caribbean, que reuniu jornalistas e convidados na inauguração de um dos principais navios da companhia, o Odyssey of the Seas, de Miami à ilha CocoCay, nas Bahamas.
 
O navio em si tem protocolos mais rígidos do que a própria cidade de Miami, onde o uso de máscaras foi praticamente abolido, inclusive em espaços fechados —mesmo no processo de imigração para entrar em território americano, agentes federais que receberam a reportagem não usavam a proteção, bem como outros funcionários do aeroporto. Estado conservador, a Flórida chegou a baixar ordens que impediam que empresas exigissem que os fregueses mostrassem prova de vacinação e que as escolas requeressem o uso de máscaras.
 
Já para embarcar no porto em Fort Lauderdale é obrigatório ter tomado duas doses da vacina contra a Covid-19 há pelo menos 14 dias, bem como apresentar um exame do tipo PCR negativo feito até 48 horas antes, exigência do CDC (Centro de Controle de Doenças dos EUA).
 
Este é um ponto a que turistas que viajam à Flórida exclusivamente para ir ao cruzeiro devem ficar atentos, já que o exame obrigatório para entrar nos Estados Unidos tem uma janela maior e pode ser feito até 72 horas antes do voo.
 
A depender, então, da data do exame inicial e da saída do navio, é preciso fazer um novo teste em solo americano —que é feito de forma gratuita em drive-thrus de farmácias como na rede Walgreens, com resultados que podem demorar até 24 horas para sair.
 
Se o voo chega muito próximo do horário de saída do navio, é possível fazer um teste no terminal de embarque do cruzeiro, segundo a empresa, mas ao custo de US$ 90 (R$ 500).
 
O exame é exigido porque o CDC ainda classifica viagens de cruzeiros como atividades de risco. O órgão desencoraja a viagem de pessoas com doenças graves e recomenda que os passageiros façam um teste de três a cinco dias depois de desembarcar, independentemente do status de vacinação.
 
Quem não estiver vacinado deve fazer uma quarentena de sete dias após sair da embarcação mesmo que o exame apresente um resultado negativo, orienta o CDC.
 
Embora os passageiros do Odyssey of the Seas tenham recebido informes dizendo que o uso de máscara seria obrigatório nas partes internas do navio, com exceção dos locais onde se servia comida e bebida, assim que o embarque foi feito, funcionários da Royal disseram que o uso era opcional.
 
A empresa diz que isso tem a ver com o nível de vacinação dos passageiros, que foi de 99% na viagem feita pela Folha. Em trajetos com nível de vacinação menor —o que se dá pela presença de crianças, cuja vacinação não é obrigatória—, as máscaras são mandatórias. Todos os funcionários do navio, porém, usavam máscaras a todo momento.
 
Mesmo testados e vacinados, alguns casos de Covid-19 acontecem, já que há aglomerações nas festas e bares a bordo e a ciência já mostrou que as vacinas reduzem as chances mas não impedem a infecção.
 
A Royal diz que o máximo de infectados que já registraram em uma embarcação foi de quatro pessoas —em um universo, no Odyssey of the Seas, de capacidade máxima para 7.048 pessoas, contando passageiros e tripulantes.
 
Quando um caso é detectado, diz o CEO da companhia, Michael Bayley, o doente é mandado para casa no mesmo dia em um jato particular da empresa.
 
A bordo, a garantia de que todos estão vacinados e testados ajuda o turista mais cuidadoso a relaxar um pouco e aproveitar algumas das atrações do navio, que vão desde os tradicionais spa, piscinas e cassinos, até parede de escalada, simuladores de paraquedas e surfe, zona de realidade virtual e carrinhos de bate-bate.
 
Sem falar nos restaurantes e bares que oferecem de comidas sofisticadas a pedaços de pizza para momentos de desespero na madrugada.
 
Entre as excentricidades, no Bionic Bar um robô prepara um drink que o turista escolhe em um totem —vale mais pela curiosidade que pelo resultado final, e prova que, se há uma categoria que não pode ser substituída pelas máquinas, ela é a dos bartenders.
 
Na Silent Party, quem chega desavisado encontra uma pequena multidão conversando aos gritos e dançando num aparente silêncio, ao som da música que o DJ toca diretamente no fone de ouvido do baladeiro.
 
Se o turista não abusar das tequilas no silêncio da balada, vale a pena colocar o despertador para ver o sol nascer no mar das varandas das cabines.
 
No segundo dia, os passageiros acordam na ilha de CocoCay, nas Bahamas, após uma curta viagem para percorrer os 200 quilômetros que a separam de Miami.
 
A ilha, privativa, é uma extensão do navio, com bares, restaurantes e um parque aquático. Mas há espaço também para os que procuram mais sossego para curtir o mar do Caribe, com cadeiras e esteiras para deitar na areia longe da muvuca.
 
Tanto na ilha quanto no navio, há estações de álcool espalhadas por todos os lugares, e funcionários pedem que os passageiros lavem as mãos antes de entrar em alguns dos restaurantes.
 
A medida pode ajudar na higiene em si, mas soa anacrônica para a Covid-19 quando há aglomerações de pessoas sem máscaras —pesquisas apontam que a transmissão da doença se dá muito mais por gotículas de saliva no ar do que por superfícies contaminadas.
 
A pandemia da Covid-19 foi especialmente cruel para a tripulação de cruzeiros, quando os países fecharam seus portos e trabalhadores de navios ficaram meses sem conseguir descer em terra firme.
 
Com centenas de milhares de trabalhadores em alto mar no mundo todo, a situação chegou a ser descrita como emergência humanitária pela International Transport Workers, associação que representa a categoria, e algumas companhias começaram a rodar o mundo deixando tripulantes nos portos de seus países.
 
Sem muito o que fazer, a saída foi aproveitar as piscinas do navio, disse à reportagem um barman indonésio que ficou meses a bordo do Odyssey of the Seas antes de conseguir voltar a Bali.
 
De volta ao solo americano, a empresa oferece novos exames de PCR no terminal de desembarque —o que ajuda a tranquilizar, mas pode não detectar infecções muito recentes.
 
Se o turista tiver algumas horas livres e algum dinheiro no bolso, pode aproveitar que já está em Fort Lauderdale, onde fica o porto, e fazer uma visita ao Sawgrass Mills, um dos maiores outlets dos Estados Unidos.
 
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