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02/12/2021 - 09h33
Economia parou e não se sabe quando voltará a andar; leia análise
Fonte: O Estado de S. Paulo
A pandemia afetou o resultado do PIB do terceiro trimestre, que recuou 0,1%, mas a falta de rumo na condução da política econômica também contribuiu para esse quadro
O resultado do PIB divulgado pelo IBGE nesta quinta-feira, 2, mostrando uma queda de 0,1% no terceiro trimestre, apenas corroborou o que todos os analistas já sabiam e que toda a população sente no dia a dia: a economia brasileira parou. Obviamente, a pandemia da covid-19, caminhando para completar dois anos, com novas ondas que se sucedem e que não permitem a volta à normalidade, tem um peso gigante nesse resultado. Mas não há como negar que as falhas e a falta de rumo na condução da política econômica também contribuíram, e muito, para esse quadro. E o pior é que as perspectivas, pelo menos no curto e no médio prazos, não são das melhores.
No terceiro trimestre, apenas o setor de serviços avançou (1,1%) em relação ao segundo trimestre. Efeito de uma certa retomada possibilitada pelo avanço das vacinas. Mas a indústria ficou no mesmo lugar e a agropecuária, sempre um motor importante da nossa economia, teve uma forte queda de 8%. Como no segundo trimestre o País teve queda de 0,4%, estamos em recessão técnica - o nome dado pelos economistas quando há dois trimestres seguidos de recuo.
Pode até ser que no quarto trimestre haja algum avanço. No acumulado do ano, devemos ter um crescimento por volta de 4%, talvez um pouco mais, talvez um pouco menos. Muito mais por efeito estatístico, depois da queda de 3,9% do ano passado (dado revisado pelo IBGE), do que por algum movimento articulado de retomada. Ou seja: ao final de 2021, o País vai estar praticamente no mesmo patamar de 2019, talvez até pior.
A pandemia atingiu todos os países, e os remédios para combatê-la foram muito parecidos: estímulos econômicos na veia e aposta na vacinação. No caso brasileiro, mais estímulos do que vacinas, pelo menos no primeiro momento. Mas, nos outros países, pelo menos nos mais desenvolvidos, as perspectivas são melhores do que as nossas. Por quê?
Não dá para negar o impacto das decisões políticas nesse quadro. Tudo o que aconteceu nesses últimos meses, todas as discussões que foram levantadas e que tiveram como objetivo as eleições de 2022, foram decisivas para esse quadro de desconfiança com o crescimento econômico. O ministro Paulo Guedes insiste que o Brasil vai surpreender, terá uma retomada em V. O governo teima em prever um PIB crescendo mais de 2% no ano que vem. Mas a realidade se impõe. As projeções dos analistas para 2022 se aproximam cada vez mais da estagnação, com muita gente já falando em recessão, mesmo.
Muito do que se faz na economia é alimentado por expectativas. Os investimentos chegam quando há perspectiva de crescimento, quando o empresário sabe que terá mercado para seus produtos. Mas esse crescimento só vem quando há um clima de estabilidade. E isso é tudo que não temos agora. O governo forçou isso ao insistir, por exemplo, na mudança do teto de gastos. A regra que limita o avanço das despesas à inflação do ano anterior era uma garantia, para o mercado, que o governo não teria como patrocinar uma “farra eleitoral”. Com a violação da regra, avalizada pelo Congresso, essa garantia vai por água abaixo. As contas públicas ficam em risco, continuaremos gastando muito mais do que arrecadamos, como acontece há muitos anos. O quadro se turva e a economia se retrai.
No fundo, tudo agora vai ficar parado à espera de definições eleitorais. Quem serão os candidatos com condições de vencer a disputa pela presidência e quais são seus planos. O problema é que ainda que falta um ano para essa definição acontecer. É tempo demais para um País às voltas com desemprego alto, inflação descontrolada, juros subindo. Mas o governo não dá sinais de que poderá reverter nada disso. Na cabeça do presidente, que nunca mostrou grande preocupação com nenhum problema real do Brasil, há apenas a reeleição no radar. A economia espera um rumo para seguir. Pode até ser que o encontremos em 2023. Mas, até lá, parece que as coisas ainda vão piorar muito.






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