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06/07/2020 - 02h43

Em 6 meses, 8,5 milhões de postos de trabalho devem ser fechados na América Latina

Fonte: Valor Investe
 
Segundo a Cepal, 2,7 milhões de empresas devem fechar nesse período


 
Mais de 2,7 milhões de empresas e 8,5 milhões de postos formais de trabalho devem ser fechados na América Latina e no Caribe nos próximos seis meses por causa da pandemia de covid-19. Para enfrentar a crise e estabelecer as condições para uma recuperação mais rápida, os governos da região precisarão ampliar e prorrogar medidas para garantir crédito, proteger empregos e distribuir mais dinheiro diretamente à população.
 
As previsões e recomendações foram feitas na última quinta-feira pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), em um relatório que avalia o impacto e os desafios enfrentados pelas empresas durante a pandemia. O documento aponta que mais de um terço do emprego formal e um quatro do PIB da região são gerados em setores fortemente afetados pela atual crise.
 
Do total de companhias que devem fechar devido à crise, 2,6 milhões são microempresas — 1,4 milhão delas estão no setor do comércio e 290 mil no turismo, segmentos especialmente impactados pelas medidas restritivas adotadas pelos governos para impedir a propagação do novo coronavírus.
 
Ao apresentar o relatório, a secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena, afirmou que a covid-19 provocou crises de demanda e oferta, interrupções nas cadeias de produção e redução do comércio e dos investimentos. Já sofrendo com a alta do desemprego, a renda da população latino-americana caiu, mudando hábitos de consumo. Desta forma, os impactos da crise foram desiguais para os diferentes setores da economia.
 
De acordo com o relatório da Cepal, 63% das microempresas e 42% das pequenas e médias empresas da região estão em setores que serão fortemente afetados pela pandemia, como comércio, hotéis e restaurantes, atividades imobiliárias e indústria manufatureira.
 
Além dos segmentos que dependem da movimentação de pessoas para funcionar, a crise atingiu fortemente setores com maior dinamismo tecnológico. É o caso, por exemplo, da indústria automotiva. No Brasil, a produção caiu 31% nos quatro primeiros meses do ano, segundo a Cepal. Na Argentina, a queda ainda mais acentuada, de 40,4%.
 
“Isso significa que, se não forem implementadas políticas adequadas para fortalecer esses ramos produtivos, existe uma alta probabilidade de que uma mudança estrutural regressiva seja gerada, o que levaria à reprimarização das economias da região”, disse Bárcena.
 
Para responder à pandemia, os 27 países analisados pela Cepal adotaram em conjunto de 351 medidas, agrupadas em seis categorias. A maior parte delas foi destinada a garantir a liquidez e a ampliar o crédito de empresas afetadas pelas quarentenas adotadas para combater o vírus. Ao menos 18 países implementaram programas para proteger empregos.
 
Bárcena destacou que as ações foram importantes, mas insuficientes. Por isso, a Cepal recomenda que os governos da região estendam os prazos das ações já adotadas, em especial as que visam ampliar o crédito.
 
É necessário também que os países ajudem, por pelo menos seis meses, as empresas a pagarem os salários de seus funcionários para evitar o desemprego. A proporção do cofinanciamento sugerido pela Cepal depende do tamanho da companhias. Para microempresas, a sugestão é que o Estado contribua com 80%. Para grandes, com 30%. A medida custaria o equivalente a 2,7% do PIB regional.
 
Outra recomendação é a distribuição de dinheiro a 15 milhões de trabalhadores autônomos formais, que deveriam receber entre US$ 300 a US$ 500 a depender da situação dos países, segundo Bárcena. O auxílio custaria 0,8% do PIB dos países analisados pela Cepal.
 
Segundo o relatório, a crise provocará mudanças no interior das empresas, que precisarão se adaptar aos novos protocolos de segurança para controlar a disseminação do vírus, mas também pode oferecer oportunidades, já que o mundo observa uma reorganização das cadeias produtivas. Multinacionais devem, na avaliação de Bárcena, diversificar seus fornecedores, reduzindo a dependência da China.
 
“As políticas industriais serão essenciais para evitar que a crise leve ao fechamento das empresas, perda de empregos e custos para o meio ambiente”, destacou Bárcena.
 
O fato de a América Latina ser hoje o principal epicentro da pandemia de covid-19 afetará a recuperação da região pós-crise.
 
“A pandemia não foi controlada. O distanciamento social, as quarentenas, seguem presentes e devem continuar”, afirmou a secretária-executiva da Cepal. “Dada a magnitude [da crise], a recuperação vai ser muito mais lenta. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial também já disseram isso”.
 
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