Notícias
28/10/2020 - 09h31
Exportações perdem fôlego na pandemia
Fonte: Valor Econômico

Desafios logísticos e redução de demanda impostos pela pandemia, políticas protecionistas de alguns países e especificidades dos mercados criaram um cenário que vem provocando queda nas exportações brasileiras deste ano para a Liga de Estados Árabes – organização que reúne 22 países do Norte da África e Oriente Médio. De acordo com os dados da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, de janeiro a setembro as vendas externas do Brasil para esses países caíram 12%, para US$ 8,25 bilhões na comparação com o mesmo período do ano passado, quando somaram US$ 9,37 bilhões.
As perspectivas de negócios com a região, porém, continuam animadoras: “Os dados mostram que os árabes estão comprando menos, mas a disposição deles é melhor”, afirma Rubens Hannun, presidente da câmara. “A pandemia abriu as portas para produtos com maior valor agregado, fortaleceu laços entre os países e tornou os árabes mais abertos a tratar da burocracia de maneira mais tecnológica”, diz Hannun. Na esfera governamental também há otimismo. “Após a pandemia, as relações já sólidas entre nossos países podem se fortalecer e expandir ainda mais”, diz o secretário-adjunto de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Flávio Bettarello.
Tais expectativas se ancoram no bom relacionamento comercial estabelecido entre os países. Desde 2010, ano em que as exportações brasileiras para os países árabes alcançaram US$ 12,57 bilhões, o valor exportado se manteve significativo: oscilou entre o mínimo de US$ 11,47 bilhões (2016) e o máximo de US$ 15,13 bilhões (2011). No ano passado, com compras de US$ 12,19 bilhões do Brasil – alta de 6,3% em relação a 2018 – o bloco se tornou o terceiro parceiro comercial do país, atrás da China (US$ 65,38 bilhões), e Estados Unidos (US$ 29, 55 bilhões).
Historicamente é o agronegócio brasileiro que sustenta as vendas para a liga: no ano passado, o setor vendeu US$ 8,08 bilhões aos árabes, de acordo com os dados da Secretaria de Comércio do Ministério da Agricultura. E apenas quatro produtos responderam por 83,3% desse valor: carne de frango in natura (29,7%); açúcar de cana bruto (25,9%); carne bovina in natura (14,2%) e milho (13,5%). Soja, frutas, lácteos, café e suco são outros produtos demandados pelos árabes.
Fora da área de alimentos, o destaque fica com minérios de ferro. Na comparação entre as exportações do setor para a liga árabe nos primeiros nove meses do ano, houve queda de US$ 1,430 bilhão, em 2019, para US$ 1,028 bilhão, este ano. Ainda assim, o valor assegurou ao setor uma participação de 12,5% no total exportado pelo país para os árabes. Em 2019 a contribuição do setor foi de 14,8%.
Na análise por destino, quatro países compraram a maior parte dos produtos brasileiros exportados para a liga entre janeiro e setembro: Emirados Árabes Unidos (17,5% do total); Arábia Saudita (17,2%); Egito (14,3%) e Argélia (10,1%).
As exportações crescentes dos últimos anos vieram acompanhadas de saldo positivo na balança comercial. No ano passado, deduzidas as importações de US$ 6,99 bilhões feitas pelo Brasil dos países árabes – especialmente de combustíveis, fertilizantes e plástico – o saldo foi de US$ 5,21 bilhões. Se depender dos esforços dos parceiros, porém, a balança movimentará muito mais “Na pauta de exportações atual, podemos tranquilamente sair dos atuais US$ 12,12 bilhões para US$ 20 bilhões em quatro anos, intensificando, por exemplo, ações de marketing, investimentos produtivos e otimizando a logística”, diz Hannun.
O Brasil vem estudando formas de diversificar a pauta de exportações para o bloco. “Desde janeiro de 2019, abrimos 17 novos mercados para produtos brasileiros nesse conjunto de países e algumas dessas aberturas já visavam a diversificação de mercado, como, por exemplo, lácteos para Egito, pescados para Marrocos e castanha do Brasil para Arábia Saudita”, diz Bettarello. Ele também destaca aberturas de mercado para insumos de alto valor agregado, como material genético avícola para Marrocos e Emirados Árabes Unidos.
Na câmara de comércio, o leque se abre para setores que vão além do agronegócio. “Como mercado, os árabes ainda vão crescer muito: a maioria dos cidadãos árabes tem menos de 30 anos e os países têm as maiores taxas de natalidade do mundo”, observa Hannun. Segundo ele, embora seja o maior exportador de proteína halal, o Brasil tem uma fração pequena do mercado internacional de alimento islâmico, que é estimado em US$ 1,2 trilhão. “Isso sem falar no imenso leque de produtos halal, como cosméticos, produtos de higiene, beleza e farmacêuticos, que o Brasil ainda pode explorar – uma possibilidade aberta pelo coronavírus, que afrouxou as barreiras árabes para adquirir produtos e equipamentos necessários contra a pandemia de covid-19”, afirma o presidente da câmara.








Área Restrita