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26/08/2020 - 01h55
Jovens ficam com 80% das vagas formais
Fonte: Valor Econômico

Em julho, primeiro mês em que o país registrou saldo positivo de empregos formais após o início da pandemia de covid-19, jovens de até 24 anos ocuparam cerca de 80% das vagas, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia. Além disso, empregos de menor remuneração e baixa qualificação lideraram a lista de postos criados. Do saldo de 131 mil vagas formais em julho, 104,4 mil foram ocupadas por jovens até 24 anos. Em um distante segundo lugar vem a faixa de 25 a 29 anos, com 31,9 mil admissões. Na outra ponta, com 38 mil demissões, estão empregados acima de 50 anos, segundo dados do Caged.
Entre as funções que mais demandaram mão de obra, estão embaladores e alimentadores de linha produção (37 mil trabalhadores) e ajudantes de obras e outros trabalhadores da construção civil (34 mil). Na outra ponta, profissionais da educação, com a perda de 11 mil vagas, com destaque para professores do ensino superior (-7 mil), e profissionais das ciências e das artes, com um saldo de 7,2 mil demissões, foram os destaques negativos.
Cosmo Donato, economista especializado em mercado de trabalho da LCA Consultores, afirma que essa configuração do mercado formal vem desde a saída da crise de 2015 e 2016, só que agora foi agravada pela pandemia. “Naquele momento, as posições de alta qualificação tiveram desempenho negativo. Havia uma recuperação muito lenta, com o faturamento das empresas demorando para reagir. Isso não muda agora, ainda mais porque voltamos a um ponto de partida muito mais debilitado”, afirma.
Donato observa que, no início da pandemia, em março e abril, o emprego mais penalizado foi o de baixa qualificação. À medida que alguns segmentos retomam a atividade é mais fácil voltar a esse tipo de contratação, e provavelmente com salários mais baixos. “É menos complicado demitir um trabalhador menos qualidade, uma mão de obra mais abundante.” A contratação de trabalhadores mais jovens está dentro dessa conjuntura, diz Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). “É normal, ninguém vai contratar gente mais experiente agora. Trabalhos menos qualificados costumam ser ocupados por mais jovens.”
O saldo em julho surpreendeu. A LCA previa 45 mil empregos. Foi um dado positivo em meio à crise - o saldo do ano ainda é negativo em 1,092 milhão -, mas há dúvidas sobre se o Caged, que foi reformulado no início deste ano, está conseguindo captar os efeitos provocados pela pandemia. Donato e Duque apontam o número de demissões, muito abaixo da média, como um ponto de atenção. Os desligamentos passaram de uma faixa de 1,3 milhão a 1,5 milhão para valores em torno de 900 mil entre junho e julho, os mais baixos em 14 anos.
“Os desligamentos caíram muito nos dois últimos meses, muito abaixo dos níveis pré-crise”, afirma Donato, que levanta algumas hipóteses. Uma é a de que o Benefício Emergencial (BEm), programa do governo para preservação de emprego, freou demissões. Outra é a própria mudança na captação de dados do Caged, que pode estar atrasando as notificações. E ainda há a possibilidade de que as milhares de empresas que fecharam por causa da pandemia não tenham inserido os dados a tempo no sistema. “Temos dúvidas se o novo Caged está captando os efeitos da pandemia, mas cabe destacar que há uma aceleração no número de admissões”, diz Donato.
Duque, do Ibre-FGV, também chama atenção para a queda das demissões. “Nunca vi algo tão forte”. Ele aventa a hipótese de o BEm estar segurando o emprego, mas diz que há risco de haver subnotificação dos desligamentos. Nas admissões, que têm subido gradativamente, mas seguem cerca de 400 mil vagas abaixo da pré-pandemia, ele vê um número mais próximo da realidade. Seja como for, a despeito do bom número de julho, havia 1,2 milhão de trabalhadores a menos com carteira assinada no país na comparação com o mesmo período do ano passado. O estoque de trabalhadores formais era de 37,71 milhões, ante 38,87 milhões em 2019.






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