Fonte: O Globo/RJ

 

Há 26 anos, atividade econômica encolheu 4,3%


 

A economia encolheu 3,8% em 2015. Já vimos o filme de uma recessão profunda assim antes. Mais especificamente, em 1990. Naquele ano, o PIB do país encolheu 4,3%, pior resultado da História, na estreia de Fernando Collor de Mello na presidência. Os números da economia são parecidos, mas o Brasil e o mundo daquela época eram bem diferentes. Febre da lambada, moda sertaneja e o fenômeno Pantanal estão entre alguns fatos marcantes do ano da outra grande crise brasileira.

 

O brasileiro começou o ano cheio de esperança, embalado pela promessa de que Collor controlaria a inflação. Em fevereiro, recém-empossado, o então presidente disse que tinha uma “bala na agulha” e “boa pontaria” para derrubar os preços. Não foi bem assim. Em junho, a ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello admitiu que o país havia mergulhado “em uma síndrome inflacionária”.

 

Os sonhos do país também fracassaram nos gramados. No Mundial da Itália, com um país sedento por títulos, a seleção caiu nas oitavas de final. E justamente para a Argentina. A Alemanha levou a taça, garantindo o tricampeonado. O tetra viria anos depois, na Copa realizada em um certo país tropical. Melhor nem lembrar dessa parte.

 

Para compensar a decepção no futebol, o brasileiro se orgulhou de um de seus maiores ídolos nas pistas. Na Fórmula 1, Ayrton Senna voava baixo em 1990 e, naquele ano, deu o troco no arquirrival Alain Prost — que havia derrotado o brasileiro no ano anterior — e garantiu seu bicampeonato em Suzuka, no Japão.

 

E se o Plano Collor fracassou no combate aos preços, foi naquela época que houve a entrada dos importados no país. Carros e motos de luxo, como a Kawasaki, viraram sonho de consumo. E antes de sonharmos em coisas como um iPhone, chique era ter telefone no carro e laptops pesadões, que mais pareciam calculadoras.

 

Na TV, Regina Duarte reinava como a “Rainha da Sucata”, a novela das oito que, ao som de Sidney Magal, consagrou a febre da lambada no país. Em 1990, o ritmo quente até virou tema de filme. O questionável “A dança proibida” foi lançado naquele ano.

 

Na batalha da audiência, o sucesso da Globo brigava de igual para igual com outro fenômeno, Pantanal. Com a assinatura de Jayme Monjardim, a obra cativou o público com imagens incríveis da natureza mato-grossense e cenas quentes protagonizadas por Critiana Oliveira, a Juma Marruá.

 

Nas rádios, foi o ano em que o sertanejo estourou, com “Evidências”, de Chitãozinho e Xororó estourava as paradas de sucesso. A cultura caipira ditou moda, principalmente os cabelos inconfundíveis da dupla. A trilha sonora daquele ano foi marcada ainda pelas estreias nos cinemas: sucessos como “Ghost” e “Uma linda mulher” chegaram às telonas em 1990. Isso para não falar da lambada, que virou “a dança proibida” no filme de qualidade questionável lançado há 26 anos.

 

E, por falar em música, a nota triste de 1990 foi o adeus a Cazuza, morto em julho, vítima de Aids.

 

Entre semelhanças e diferenças, há quem diga que a crise que passou é muito diferente da atual, Se, naquela época, o desafio era lidar com a dívida externa, hoje o governo tem pela frente a tarefa de equilibrar as contas públicas.

 

Cinco fatos que você não gostaria de saber sobre o PIB 2015

 

Investimentos despencam

 

O IBGE usa um nome pomposo para ele (Formação Bruta de Capital Fixo), mas você pode chamá-lo de investimento. No caso de 2015, o que chamou a atenção, na verdade, foi a ausência dele. O segmento sofreu tombo de 14,1%, o maior da série histórica iniciada 20 anos atrás. E pensar que o investimento hoje é o crescimento de amanhã...

 

Famílias consumindo menos

 

Não foi só você que sofreu com a "grana" mais curta no ano passado. Os gastos das famílias brasileiras encolheram 4% em 2015, reagindo ao drama da inflação e dos juros mais altos e do crédito e do emprego mais escassos. Até o governo, sempre refratário a fechar a carteira, gastou 1% menos.

 

Desalento da indústria

 

O Brasil está produzindo cada vez menos. A queda de 6,2% da indústria no ano passado foi a maior desde o auge da crise global, em 2009. Pior: o segmento que mais caiu foi a indústria de transformação (9,7%), que produz máquinas e equipamentos e é um indicador da economia futura.

 

Serviços encolhem pela 1ª vez

 

Nunca antes na história - pelo menos naquela da série do IBGE, iniciada em 1996 - o setor de serviços havia encolhido. Pois foi o que aconteceu em 2015: queda de 2,7%. São lojas, escolas, transportes etc. retrocedendo, em um segmento que representa 72% do nosso PIB. O comércio, por exemplo, ficou 8,9% menor.

 

Importações em queda livre

 

Com o dólar "pela hora da morte", como se diz, e o bolso da população apertado, o Brasil importou 14,3% menos em 2015. Desde 1999, quando o real sofreu a chamada "maxidesvalorização", não acontecia uma queda tão forte. Entraram no país menos, sobretudo, máquinas, automóveis e petróleo, sem falar na queda dos serviços de transportes e viagens.