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17/04/2015 - 14h11

Lula cobra de Dilma veto à terceirização, como 'questão de honra'

Fonte: Valor Econômico



O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou da presidente Dilma Rousseff, na noite desta terça-feira, o veto à lei que regulamenta e amplia a terceirização no país, que está em votação na Câmara. Para Lula, é “uma questão de honra” barrar a proposta. Ao discursar para uma plateia de sindicalistas, o ex-presidente afirmou que o governo não pode permitir o retrocesso nos direitos trabalhistas.
 
“Não deixar aprovar a lei 4.330 [da terceirização] é questão de honra da classe trabalhadora”, afirmou Lula, ao discursar no 9º Congresso Nacional dos Metalúrgicos da CUT, em Guarulhos.
 
O ex-presidente afirmou que a presidente terá os trabalhadores e o movimento sindical nas ruas para defendê-la, mas condicionou o apoio ao veto da proposta. “Dilma, conte conosco para qualquer coisa, mas por favor tente fazer com que o Congresso Nacional respeite as conquistas históricas da classe trabalhadora brasileira. É o mínimo que nós queremos que aconteça nesse país”, disse.
 
Na semana passada a Câmara aprovou o texto-base do projeto e na terça-feira os deputados discutiram e votaram alguns destaques à proposta. Em meio a impasses, a  votação continua nesta quarta-feira.
 
Ex-sindicalista, Lula afirmou ainda que a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), “com todos os defeitos que tem”, foi uma conquista do povo brasileiro. “Por isso a elite brasileira nunca gostou de Getúlio [Vargas] e levou Getúlio à morte. O que nós não queremos é que as empresas passem a utilizar quase que mão de obra escrava como no final do século passado.
 
As conquistas que temos aqui vieram com muita luta. Certamente Eduardo Cunha [presidente da Câmara] não sabe”, disse o ex-presidente, referindo-se ao presidente da Câmara, principal patrocinador da votação da terceirização.
 
No discurso, dois dias depois da segunda rodada de protestos pelo país contra Dilma, o ex-presidente falou rapidamente sobre as manifestações e disse que é preciso respeitar as críticas. “Não vamos ficar nervosos com manifestação não”, afirmou.
 
Lula saiu em defesa da presidente e afirmou que ambos fazem parte do mesmo projeto político. Para o ex-presidente, o momento atual é uma “enrascada”. “Se não der certo com Dilma, não vai dar certo para nós. Se tem gente que vai para a rua para te defender e te ajudar a sair dessa enrascada que nós estamos é essa gente aqui”, disse.
 
Para o ex-presidente, a oposição tenta desgastar Dilma da mesma forma como fizeram com ele em 2005, no auge do escândalo do mensalão. “Faz dez anos que há uma política premeditada de criminalizar o PT, pelos defeitos e pelas virtudes. Eles nunca vão reconhecer que nunca antes na história deste país um governo criou instrumentos para combater a corrupção como o PT nestes doze anos”, disse.
 
O petista lembrou da crise vivida naquela época, quando a oposição falava em impeachment, mas disse que o apoio dos movimentos sociais fez com que esse coro por sua saída do cargo fosse abafado.
 
Ao referir-se à crise enfrentada pela presidente, Lula afirmou que até hoje “quem rouba tem diploma” e tentou mostrar que o problema é de disputa de classes sociais. “Aprendi uma lição de vida com a minha ‘mainha’, que nasceu e morreu analfabeta. Ser honesto não é virtude, é educação. Você não aprende na escola, aprende no berço. Até agora todos que roubaram têm diploma. Não vi um analfabeto roubando”, disse.
 
Lula defendeu a Petrobras e disse que é uma das empresas de petróleo mais importantes do mundo. O ex-presidente afirmou também que a oposição deveria agradecer o fato de ter Dilma como presidente. “Nunca este país teve uma mulher séria como Dilma que combateu tanto a corrupção”.
 
Em meio a críticas dos sindicalistas às propostas na área econômica anunciadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, Lula disse sentir-se “feliz” ao saber que os dirigentes sindicais voltaram a ser combativos e afirmou que tinha “acostumado mal” os sindicalistas durante o seu governo, pelo diálogo que mantinha com os movimentos sociais.
 
Sindicalistas
 
Antes de Lula discursar, o sindicalista e assessor especial da Presidência José Lopes Feijóo também fez críticas ao projeto de terceirização e disse que a proposta é o “AI-5 da classe trabalhadora”. Ele disse que as Medidas Provisórias 664 e 665, que são alvo de crítica das centrais sindicais por limitarem o acesso a benefícios e direitos trabalhistas, são “nada” comparadas ao projeto que amplia a terceirização, de número 4.330/04, em tramitação na Câmara.
 
“Sei que vão me cobrar sobre as MPs 664 e a 665, mas não são nada comparadas ao projeto de terceirização, que é a destruição total dos direitos da classe trabalhadora. É o AI 5 da classe trabalhadora brasileira. No governo, estamos na trincheira para fazer que o projeto não passe”, afirmou ao participar do evento, em Guarulhos.
 
O presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, disse que o projeto quer acabar com os direitos dos trabalhadores. “Se passar o projeto, você vai ser demitido, trabalhador. Vão rasgar a CLT, acabar com as férias, o 13º salário. Por que o patrão vai pagar diretamente se ele pode contratar uma empresa terceirizada e pagar menos?”, afirmou o dirigente sindical. “Querem precarizar a relação de trabalho, para que não haja trabalhador com carteira assinada”, disse Freitas.
 
A CUT, MTST, MST, UNE e outros movimentos sociais e sindicais farão nesta quarta-feira atos em todo o país contra o projeto.
 
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