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22/11/2019 - 02h39

Precária melhora do emprego

Fonte: Estadão Conteúdo
 
Os desocupados passaram de 3,31 milhões para 3,09 milhões no mercado paulista, mas só com boa vontade se pode enxergar no cenário um significativo sinal de melhora
 
O desemprego, pior efeito da crise, só diminuiu em uma das 27 unidades da Federação, o Estado de São Paulo, entre o segundo e o terceiro trimestres. Os desocupados passaram de 3,31 milhões para 3,09 milhões no mercado paulista, mas só com boa vontade se pode enxergar no cenário um significativo sinal de melhora. Empregos sem carteira assinada e mais ocupação por conta própria – um estranho surto de empreendedorismo – explicam a maior parte da mudança. Com novos detalhes publicados na terça-feira, ficaram mais claros, e nada entusiasmantes, os números gerais de emprego e desemprego divulgados no fim de outubro. Segundo esses dados, 12,51 milhões de pessoas continuavam desocupadas no período de julho a setembro, quando o desemprego, 11,8% da força de trabalho, foi 0,2 ponto porcentual menor que no trimestre de abril a junho.
 
A desocupação ficou estável em 25 das 27 unidades, nos meses de julho a setembro, tendo aumentado em Rondônia e diminuído 0,8 ponto porcentual em São Paulo. Mas isso mostra apenas uma parte do drama, pois é muito maior o número de pessoas em dificuldades. Chega-se a 24 milhões de pessoas subutilizadas, quando se juntam as desocupadas, as subocupadas por insuficiência de horas de trabalho, as desalentadas e as incluídas na força de trabalho potencial. Esse contingente corresponde a 24% da população economicamente ativa. A taxa era 24,8% no trimestre anterior. A força de trabalho potencial corresponde às pessoas dispostas a entrar no mercado se houver oportunidade de achar uma ocupação.
 
No caso de São Paulo, onde o desemprego diminuiu, os ocupados por conta própria chegaram a 5,08 milhões, com acréscimo de 207 mil pessoas no terceiro trimestre. Os empregados sem carteira assinada no setor privado (sem contar os trabalhadores domésticos) chegaram a 12,64 milhões, com aumento de 117 mil. Esses números são os principais fatores de explicação da redução de 217 mil pessoas no continente desocupado. O quadro geral inclui variações menos significativas para mais e para menos.
 
Em um trimestre, o número de trabalhadores por conta própria aumentou 4,25% no Estado de São Paulo. Em um ano, o total cresceu 7,08%. O Estado acompanhou a tendência nacional. No País, a ocupação por conta própria foi um recorde no terceiro trimestre, com aumento de 1,2% em relação ao segundo (mais 293 mil pessoas) e de 4,3% sobre igual período de 2018 (mais 1 milhão).
 
Os 24,43 milhões de trabalhadores nessas condições são o maior contingente de autoempregadores da série histórica. Destes, 19,50 milhões, ou 79,8% do total, indicaram trabalhar sem CNPJ. Os maiores porcentuais de trabalhadores por conta própria são registrados em unidades com menor oferta de emprego em companhias industriais, comerciais e de serviços. A participação atinge 36,7% no Amapá, 35,7% no Pará e 33,3% no Amazonas. Em São Paulo tem ficado em torno de 20% da força de trabalho.
 
Quando se leva em conta o aumento da ocupação por conta própria, em nível recorde no terceiro trimestre, fica mais difícil falar de melhora efetiva nas condições de emprego. Com o recuo de 12% para 11,8%, a taxa de desocupação parece evoluir no sentido desejável, mas a aparente melhora é explicável em boa parte pelo aumento do emprego sem carteira assinada, de baixa remuneração, nenhuma segurança e baixa produtividade. É explicável também pela expansão de uma atividade autônoma quase sempre de baixo rendimento, buscada com frequência por falta de alternativa. Muitos autoempregadores com certeza fechariam seu negócio se encontrassem uma vaga disponível numa empresa.
 
Na melhor hipótese, o desemprego diminuirá lentamente, acompanhando com atraso a lenta recuperação da atividade. Essa recuperação continuará vagarosa enquanto depender quase exclusivamente da redução dos juros e da maior oferta de crédito. Não basta baratear a mão de obra para criar empregos, quando há enorme ociosidade na economia e demanda ainda muito moderada.
 
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