Fonte: FNP

 

Sindicatos precisam se unir para enfrentar a grande mídia. Essa é avaliação de trabalhadores e especialistas em comunicação sindical. Para a secretária de comunicação da CUT nacional, Rosane Bertotti, os sindicatos devem ter seus próprios instrumentos para dialogar com a classe trabalhadora, visto que os temas relacionados ao mundo do trabalho de interesse dessa classe não faz parte da pauta da imprensa nacional.  “A grande mídia criminaliza o mundo do trabalho, as organizações e os trabalhadores”, criticou Bertotti.

 

Segundo a sindicalista, além de lutar por uma mídia em que a população se sinta representada, os movimentos sociais precisam criar alternativas à grande mídia e construir novos veículos de comunicação, investir em infraestrutura, formação de dirigentes e profissionais de comunicação, utilizar a blogosfera.  É necessário ainda, organizar e unificar as iniciativas que já existem nos sindicatos e estabelecer parcerias, ou seja, atuar em rede.

 

Segundo o escritor Vito Giannotti, autor do livro O que é Jornalismo Sindical, os sindicatos precisam investir mais em comunicação. De acordo com ele, na década de 90, havia no Brasil seis jornais diários mantidos por sindicatos, entre eles os dos Metalúrgicos de São Bernardo (SP), e dos Bancários de São Paulo, hoje os únicos que ainda são publicados diariamente.

 

Na avaliação de Giannotti, além da presença nas mídias eletrônicas, os sindicatos têm que apostar no jornal impresso. “Enquanto mídia sindical devemos implantar todos os instrumentos de comunicação que vão do velho jornal às mídias eletrônicas, à TV e ao rádio”, detalhou.

 

Giannotti dá um exemplo de como fazer para criar alternativas à grande imprensa. “Por que não se juntam cinco sindicatos que atuem em áreas similares para fazer um jornal diário de ampla circulação? Outros cinco com outra visão fazem outro. Assim vamos ter diversidade de informação acessível ao trabalhador”, destacou.

 

Segundo o escritor não dá para alcançar todos os trabalhadores se os sindicatos não diversificarem seus meios de comunicação. “Essa história de que estão todos na internet não é verdade”, disse ele.

 

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2011 revelam que existem no Brasil cerca 12,9 milhões de analfabetos 8,6% da população com mais de 15 anos. Além disso, mais de 30 milhões de brasileiros (20,4%) são analfabetos funcionais.

 

A população brasileira, em geral, não tem a tradição da leitura. O Brasil é o país que menos lê jornal na América Latina. Essas especificidades refletem na organização sindical e tornam-se um desafio à comunicação. “Infelizmente, é a televisão comercial, patronal, burguesa que faz a cabeça do povo”, constatou Giannotti.

 

O especialista defende, porém, que ainda há muitos que queiram ler e é preciso colocar a informação na mão deles. “Se você dá o jornal na mão da pessoa pouco a pouco ela vai pegando o gosto pela leitura. Ou se ela não sabe ler, um parente pode ler e repassar a informação,” exemplificou.

 

Democratização da Mídia

 

Num país de poucos leitores, o rádio tem papel social fundamental, assim como a TV. Para isso é preciso democratizar o acesso às concessões de rádio e TV. Projeto de Lei de iniciativa popular lançado na Câmara dos Deputados pretende regulamentar artigos da Constituição Federal que versam sobre comunicação. O objetivo é democratizar a mídia, garantir canais públicos, dar espaço à diversidade, estabelecer critérios de acesso às concessões de rádio e TV e, assim, impedir o controle de vários veículos de comunicação pelo mesmo grupo empresarial.

 

Giannotti alertou que é preciso lutar para mudar as concessões de rádio e televisão e conseguir que os trabalhadores e sindicatos tenham suas rádios e TVs abertas.  “Temos que ter uma rádio dos trabalhadores em cada estado. Como que os professores, um dos maiores sindicatos do Brasil, não têm sua rádio? É preciso uma rádio na mão dos professores para auxiliar na promoção da educação”, ressaltou.

 

Movimentos sociais como o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) reivindicam melhor distribuição das verbas publicitárias oficiais. Em 2011, 51% dessa verba foi destinada às Organizações Globo.

 

Vídeo: confira cordel da regulamentação da comunicação

 

Fortalecimento dos sindicatos

 

Para Bertotti, pensar a comunicação sindical estrategicamente contribui para o fortalecimento dos sindicatos e ampliação dos direitos dos trabalhadores. “Se você tem uma campanha salarial que articula a estratégia de negociação com a de divulgação o resultado dessa campanha será mais eficaz”, disse.

 

Por meio da comunicação sindical também é possível intervir diretamente no ambiente de trabalho e denunciar práticas abusivas por parte do empregador como assédio moral, desrespeito à legislação trabalhista. “A partir do momento que você dá visibilidade a essas condutas, elas cessam imediatamente. Com isso, as organizações sindicais conseguem conquistar o reconhecimento do trabalhador e da sociedade”, defendeu.

 

Seminário de Atualização Sindical

 

Atentos à importância do tema comunicação, representantes da Federação Nacional dos Portuários (FNP) participam do 1º Seminário de Atualização em Comunicação Sindical – que ocorre de 18 a 20 de setembro, em Brasília.

 

Organizado pela CUT do Distrito Federal, Sindicato dos Jornalistas do DF e Sindicato dos Bancários de Brasília, o seminário terá como temas de debate: Estrutura e Desafios do Movimento Sindical, Pensamento Político e Sindicalismo, Papel Estratégico da Comunicação no Sindicalismo.

 

Vito Giannotti, escritor e ex-metalúrgico, é um dos fundadores do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), entidade que realiza cursos para dirigentes sindicais e jornalistas sobre comunicação sindical e popular. Ele também é membro da CUT (Central Única dos Trabalhadores), que ajudou a fundar em 1983.

 

Rosane Bertotti é agricultora familiar do grupo de produção Guavirova e secretária nacional de comunicação da CUT e integrante do Fórum Nacional da Democratização da Comunicação (FNDC).