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16/09/2019 - 00h57

Trabalhando com a idade

Fonte: O Estado de S. Paulo
 
Como os governos podem fomentar mais e melhores oportunidades de trabalho para profissionais na terceira idade


 
A maioria das nações enfrenta um rápido declínio demográfico, à medida que as taxas de natalidade diminuem e as de longevidade aumentam. O Brasil, por exemplo, perdeu em 2018 seu bônus demográfico, ou seja, a situação em que os habitantes em idade de trabalho (dos 15 aos 64 anos) superam os dependentes – os idosos e crianças. Como resposta a esse desafio, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) vem promovendo uma série de estudos. O mais recente, Trabalhando Melhor com a Idade, discute como os governos podem fomentar mais e melhores oportunidades de trabalho para profissionais na terceira idade.
 
Para abordar o problema por todos os seus ângulos, a OCDE propõe que os governos atuem em três áreas principais. Em primeiro lugar, é preciso fortalecer os incentivos ao trabalho em idades avançadas. Uma das recomendações é a flexibilização do processo de aposentadoria, de modo que ele possa ser realizado em fases que combinem gradativamente pensões com renda de trabalho e eventuais bônus para quem segue trabalhando em idade avançada. Concomitantemente, é preciso restringir a margem para as aposentadorias precoces que encorajam os profissionais a deixar o trabalho enquanto ainda estão em boas condições.
 
Mas além dos incentivos aos profissionais de terceira idade é necessário, em segundo lugar, aumentar as suas oportunidades de trabalho, estimulando os empregadores a contratá-los e mantê-los. Com frequência os sistemas atuais de proteção legal aos trabalhadores de idade acabam, paradoxalmente, por prejudicar as suas chances no mercado. Profissionais mais velhos tendem a custar mais que os jovens, devido aos benefícios legais acumulados. Assim, a organização recomenda um duplo reajuste: flexibilizar as regras de contratação, por um lado, e fortalecer, por outro, o suporte à renda e ao reemprego para trabalhadores desempregados. Com isso é possível salvaguardar os interesses dos trabalhadores mais velhos, já que gozarão de uma rede de proteção mais forte no caso de desemprego, sem ferir as suas perspectivas de emprego, já que concorrerão em pé de igualdade com os mais jovens, não sendo nem mais nem menos onerosos ao empregador. Nesse processo, a tecnologia de dados pode ser útil, promovendo a triagem e a colocação de profissionais de acordo com as suas melhores aptidões.
 
Em terceiro lugar, é preciso capacitar os trabalhadores para que se mantenham como força de trabalho atraente à medida que envelhecem. “A melhor prática para fortalecer a empregabilidade e as oportunidades de emprego em uma idade avançada”, diz a pesquisa, “é fornecer oportunidades iguais aos profissionais para que continuamente incrementem as suas habilidades, conscientizem-se de habilidades adquiridas através de uma vida de trabalho e melhorem as condições de trabalho em todas as idades.” Há várias estratégias para concretizar esse objetivo. Talvez a principal seja o fomento a programas de capacitação adaptados a cada uma das idades da vida profissional. Ao mesmo tempo, é preciso fornecer assistência aos desempregados, em especial aos desalentados, garantindo que desempregados mais velhos tenham os mesmos direitos de recolocação que os mais jovens, mas também, como contrapartida aos benefícios recebidos, as mesmas obrigações de procurar emprego. Ademais, cabe aperfeiçoar as condições de trabalho para trabalhadores de todas as idades, de modo a revigorar a longevidade da vida profissional. Isso implica fortalecer as condições de segurança e de saúde física e mental nos locais de trabalho, reduzir a incidência de trabalho insalubre e equilibrar as responsabilidades profissionais e familiares.
 
Que o trabalho dignifica o homem é uma verdade conhecida desde que o homem é homem. O desafio do nosso tempo é provar que o trabalho pode também dignificar o homem de idade, e que este pode trabalhar dignamente para proveito da sociedade, de sua família e, por óbvio, de si mesmo.
 
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